A ocupação dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) da Rede Pública de Saúde Pernambuco atingiu, nesta segunda-feira (22), 88%. O patamar próximo a 90% preocupa, sobretudo diante do cenário atual da pandemia no Brasil.
No total, a rede conta com 996 vagas de UTI distribuídas em todo o Estado, mas a maioria concentrada na primeira macrorregião de Saúde, que abriga a Região Metropolitana do Recife (RMR) e partes das zonas da Mata Norte e Sul, por reunir o maior número de habitantes.
As enfermarias também apresentam ocupação significativa se comparada a números anteriores no Estado. Dos 932 leitos, 74% estão preenchidos.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), a rede privada no Estado conta com 420 leitos dedicados ao tratamento da Covid-19. No momento, a ocupação nas UTIs é de 70% e nas enfermarias, de 39%. Não foi detalhado, porém, o número de vagas de terapia intensiva e de enfermaria.
A reportagem questionou a pasta estadual sobre a previsão de abertura de novos leitos hospitalares para atender pacientes com quadros suspeitos ou confirmados da Covid-19, incluindo um hospital de campanha na área central do Recife que estaria com processo licitatório em andamento.
Em nota, a SES-PE respondeu que “o Governo de Pernambuco monitora permanentemente a evolução da doença e salienta que o planejamento de abertura de novas vagas e as medidas para conter o vírus são sempre proporcionais ao momento epidemiológico”.
Desde o final de 2020, a ocupação de leitos no Estado apresenta alta. Em 10 de dezembro, também foi registado 88% de ocupação nas UTIs públicas. Na época, eram 839 vagas, ou seja, cerca de 738 internados em terapia intensiva.
Com a abertura de novos leitos, esse índice baixou, variando, na maioria dos dias, entre 80% e 85% de ocupação. Não por melhora no cenário, mas pelo número maior de vagas. Hoje, no entanto, os 88% de ocupação são em cima de 996 vagas – cerca de 877 internados em UTIs.
“Desde o fim do ano passado, estamos com taxas de ocupação maiores do que em outros momentos da pandemia. Mas o risco agora é que não tem mais tantos leitos para abrir. Tem a expectativa de um hospital de campanha nos Coelhos (bairro dos Coelhos, no Recife), mas não sei se a gente dá conta, se observarmos o crescimento que está acontecendo no Sul e Norte do País e também em algumas cidades do interior de São Paulo”, destaca o médico infectologista Bruno Ishigami.
“Uma ocupação de 88% diante da variante nova (a P1, provavelmente oriunda de mutação no Amazonas, com característica de maior transmissibiliadde) e da piora vista ao redor do País significa um risco de colapso no sistema de saúde nas próximas semanas”, completa.
Se, durante a primeira onda de casos da Covid-19 no País, Pernambuco e o Recife tiveram atuação pioneira na implantação de medidas restritivas mais rígidas para evitar a disseminação do vírus, agora chama atenção a ausência delas.
Somente no Nordeste, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia já adotaram medidas restritivas mais rígidas para tentar conter o espalhamento do vírus.
Em Pernambuco, as únicas restrições ativas são a proibição de som (mecânico ou ao vivo) e de eventos. A fiscalização, contudo, mesmo tendo sido intensificada, ainda deixa a desejar.
Embora tenha ameaçado proibir o acesso a praias e parques, o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 no Estado julgou que houve melhora no comportamento da população e não levou a ação adiante. Mas basta uma volta rápida pela capital pernambucana para notar que a população segue fazendo as próprias regras.
“Na primeira onda, Pernambuco foi pioneiro nas medidas restritivas, mas, agora, a gente está nessa de abrir leitos como se fosse a solução. Não acredito que isso (restrição a festas e som) é suficiente, levando em consideração o risco da variante nova e de tudo que está acontecendo ao redor do País. Precisamos olhar sempre ao redor do País, ver outras regiões, como estão lidando, como está colapsando em outros locais e saber que a gente corre o risco de colapsar também. Acredito ser inevitável que a gente comece com medidas restritivas também”, pontua Ishigami.
Por FolhaPE